A HISTÓRIA
Jeliath vive em uma terra amaldiçoada e marcada pela miséria. Em seu planeta, chamado Dartana, os habitantes são incapazes de guardar e reproduzir conhecimento. De tempos em tempos, algumas ideais até surgem nas cabeças dos dartanas, mas elas logo são devoradas pela maldição. Assim, os dartanas são incapazes de se desenvolver, eles vivem de forma grosseira, sem meios de combater a fome e a doença que dizimam seu povo.
As feiticeiras são os únicos seres capaz de produzir e armazenar conhecimento, por isso elas ajudam os dartanas como podem, presenteando aqueles que acham merecer com instruções, roupas, armas e até comida, e punindo aqueles que comentem crimes. Contudo, a verdadeira função dessas mulheres mágicas é manter a fé viva em Dartana. De tempos em tempos, um Deus da guerra nasce no Hangar das feiticeiras e marcha com seu exército de soldados e construtores para o Combatheon, uma terra desconhecida que serve como plataforma de luta para vários Deuses, sendo que o vencedor conseguirá quebrar a maldição do conhecimento em sua terra natal.
E quando Belenus começa a ser gerado no Hangar, o povo de Dartana sabe que é hora de marchar novamente. Contudo, a população parece dividida: alguns sofrem por saber que aqueles que partirem nunca mais vão voltar, enquanto outros se enchem de esperança e querem lutar para libertar seu mundo da maldição. Entre o segundo grupo está Jeliath, que sempre fora excepcionalmente curioso e engenhoso e que, por isso, acaba sendo escolhido como o chefe dos construtores, que irão para o Combatheon construir as armas usadas na batalha. Outra que está ansiosa para marchar é Thaidena, que sente que é seu dever lutar ao lado de seu Deus, mas ela que terá que lidar com o medo do namorado Parten, que não nasceu para a guerra, mas que não quer se separar de sua amada.
Uma dartana que também estava relutante é Dabbynne, uma jovem garota que, até algum tempo atrás, namorava Jout, um garoto rebelde que lidera um grupo de dartanas que não acreditam nessa coisa de Deus da guerra e Combatheon. Contudo, as dúvidas de Dabbynne mudam quando ela descobre que é uma feiticeira e acaba sendo escolhida como a favorita de Belenus. Apesar do medo, a jovem agora só quer lutar pelo seu Deus e liberar o seu povo da maldição. Mas, essa não será uma tarefa fácil para ninguém. Belenus e seu exército, comandado pelo general Mander (que fará qualquer coisa para salvar seus filhos) começam a marchar pelo Combatheon, mas antes precisam enfrentar a fúria dos descrentes.
E, quando finalmente chegam ao campo de batalha, os dartanas e o seu deus ficam frente a frente com mais surpresas e lutas. O Combatheon é uma terra de morte e destruição, mas terá que ser também uma terra de esperança para Jeliath, Thaidena, Parten, Dabbynne e Mander. Para salvar o seu planeta, os dartanas precisarão lutar e descobrir todo um novo universo, cheio de diferentes raças e deuses, assim como de fé e descrença. Mas, enquanto os dartanas acreditarem não só em seu deus da guerra, mas em si mesmos, haverá esperança.
A LEITURA
Eu estava ao mesmo tempo curiosa e receosa para ler Dartana. Por um lado, achei a sinopse do livro bem intrigante e fiquei curiosa para saber mais sobre o mundo que o autor tinha criado, mas, por não ter gostado de outros livros do André Vianco no passado, não sabia se essa leitura iria me agradar ou não. Contudo, a primeira surpresa veio quando recebi o livro, que era bem mais grosso do que eu imaginava. Mas, resolvi encarar as quase 800 páginas dessa fantasia de frente e, o resultado, foi que acabei gostando bastante.
Primeiro preciso deixar claro que essa não foi uma leitura rápida. Levei mais de um mês para concluir a obra e, infelizmente, não só por causa do seu grande número de páginas. Vianco tem uma escrita boa, que nos envolve bastante e que nos faz sentir como se não estivéssemos lendo, e sim vendo aquela história diante dos nossos olhos. Contudo, para isso, o autor acaba tendo uma narrativa extremamente descritiva e, logo, cansativa.
Ao se prender em detalhes pequenos, o autor deixa a leitura mais vívida e rica, mas também mais demorada e arrastada. Além de descrever demais para o meu gosto, também me incomodou que Vianco se perdeu várias vezes nos pensamentos e sentimentos íntimos dos personagens, algo que poderia ter sido mais simplificado em inúmeros momentos. O autor também se estende muito nas cenas de batalha, entretanto, apesar de isso ser algo que não me agrada, não chego a reclamar, já que longas cenas de luta fazem parte de qualquer boa fantasia.
Apesar de achar que Dartana poderia ter, no mínimo, umas duzentas páginas a menos, eu não mudaria nada na história. O autor poderia ter sido mais sucinto na sua narrativa e descrições que nada seria perdido, contudo, se tivesse mudado qualquer dos acontecimentos do livro, esse não seria o mesmo. A trama é extremamente bem amarrada e foi bem desenvolvida. As primeiras duzentas páginas de Dartana são um pouco mais lentas que o resto, mas esse início um pouco maçante é bem necessário para um meio e um final completamente emocionantes e fascinantes.
Algo pelo qual preciso elogiar Vianco é pela mitologia riquíssima e única que ele criou para Dartana. Toda essa história de maldição do saber, Deuses da guerra, Combatheon, avatares em outros planetas, pode soar meio maluca no início, mas logo o leitor mergulha de cabeça e começa a ver que a coisa toda poderia muito bem ser real. O autor soube criar todo um universo complexo e fantástico, mas que soa crível e que entretêm bem. E, em meio a uma trama de fantasia, o autor ainda conseguiu, de forma natural, trazer boas reflexões a cerca do valor do conhecimento e do poder da fé. Por isso eu digo, apesar de ter seus defeitos e de ser bem lenta, a leitura de Dartana valeu a pena!
OS PERSONAGENS
Se o autor conseguiu criar uma mitologia vívida e rica, foi porque conseguiu criar personagens vívidos e ricos. Um ponto negativo é que Dartana tem muitos personagens principais, e mais um bom número de secundários, o que, como podem imaginar, se tornou bem confuso em vários momentos. Contudo, Vianco conseguiu trazer sempre personagens complexos, cheio de motivações, desejos, medos, e muitos outros sentimentos que os fizeram soar muito humanos e, logo, cativantes. Algo que adorei é que cada um deles tem seus talentos e boas qualidades, mas também seus defeitos, e eles se ajudam a melhorar e crescer ao longo do livro.
De todos, Jeliath acabou sendo o meu favorito. Eu adorei e me identifiquei bastante com sua sede por conhecimento e sua vontade imensa de entender o mundo ao se redor. Confesso que me irritei com seu amor insistente pela Dabbynne, mas como Jeliath acaba sendo aquele personagem que nunca desiste e que sempre está disposto a ajudar os outros, é impossível não adorar ele no final. Eu também adorei o casal Thaidena e Parten, que são fiéis e apaixonados um pelo outro do início ao fim. É muito fofo acompanhar como a coragem de Thaidena e a covardia Parten acabam se completando, e como ela aprende a ter coragem com mais cautela e ele aprende a ter menos medo e mais coragem...
A EDIÇÃO
Quanto a edição, nada a reclamar. A diagramação é simples, mas o texto está sem erros e as letras estão com um bom tamanho e fonte. Eu gostei bastante das páginas cor de creme e de material mais resistente. A capa de Dartana é bastante bonita, adorei os tons de azul usados, e gostei que, depois da leitura, conseguimos ver vários personagens retratados na capa.
CONCLUSÕES FINAIS
Dartana é uma leitura lenta, com muitos personagens e narração descritiva demais. Contudo, é uma obra de fantasia rica e cativante, com uma mitologia única e fascinante e protagonistas que soam muito humanos. Por mais que não tenha sido uma leitura fácil, valeu a pena conhecer o universo de Dartana, que além de me emocionar com intrigas, mistérios e batalhas, conseguiu ainda me fazer refletir bastante sobre o valor do saber e da fé. Acima de tudo, um livro sobre ter esperança e acreditar em si mesmo, Dartana não é uma obra fácil, mas é uma obra que vale a pena. Contudo, só a recomendo para os leitores mais corajosos, que gostam muito de histórias fantásticas e que não se intimidem com as quase 800 páginas dessa obra.
QUOTE FAVORITO
“Jeliath não queria perder aquele conhecimento. Na verdade, o jovem pastor queria saber mais. Entender mais. Era tudo o que queria nessa vida.” Pág. 12
Título: Dartana
Autor: André Vianco
Editora: Fábrica231
ISBN: 9788568432846
Ano: 2016
Páginas: 784
*Esse livro foi uma cortesia da Editora Rocco