A HISTÓRIA
Natasha não é do tipo que acredita em milagres, mas ela bem que podia se aproveitar de um. Apesar de ter nascido na Jamaica, a garota cresceu nos Estados Unidos. Contudo, sua família imigrou de forma ilegal e, agora que seu pai estragou tudo mais uma vez, eles estão sendo deportados de volta. Natasha e a família precisam deixar Nova York em 12 horas, contudo, a garota não quer aceitar o destino e decide aproveitar o tempo que lhe resta para tentar consertar as coisas.
“- E seu eu dissesse que poderia fazer com que você se apaixonasse por mim cientificamente?
- Eu acharia ridículo – respondo. - E muito.” Natasha, pág. 69
Danielé filho de imigrantes coreanos, mas nasceu e cresceu nos Estados Unidos. Assim, está preso em um limbo: para os pais, ele nunca será suficientemente coreano, mas, para o resto do país, ele também não é 100% americano. Mas Daniel não se importa com esse tipo de coisa: ele já aprendeu a aceitar as coisas como são. Por exemplo, por mais que ame poesia e não saiba se realmente quer ir para a faculdade, ele vai seguir o desejo dos pais e se tornar um médico na Universidade de Harvard. Mas, para isso, Daniel precisa comparecer a uma entrevista com um ex-aluno de Harvard, algo que ele não está nem um pouco ansioso para fazer.
E é no pior dia da vida de Natasha e no dia que vai decidir o futuro de Daniel que eles se conhecem, mas não exatamente ao acaso. Um variado número de fatores (e pessoas) os levam a estar na mesma rua, na mesma hora, mas, é a atração física que faz Daniel tentar uma chance com a garota mais bonita que ele já viu. Contudo, Natasha não está nem um pouco interessada em conhecer alguém, ainda mais quando pode estar bem longe do país em menos de 12 horas. Mas, Daniel, que nunca foi do tipo corajoso, resolve não desistir e propõem, logo quando percebe que Natasha não acredita em destino e paixão à primeira vista como ele, que eles façam um pequeno experimento que, de acordo com a ciência, os levaria a se apaixonar.
“- Que bom que você acha engraçado – declara ele.
- Qual é! Tragédia é um negócio engraçado.
- Estamos numa tragédia? - pergunta ele, agora com um sorriso legal.
- Claro. A vida não é isso? No fim, todos nós morremos.” Natasha, pág. 118
Natasha, que acredita em fatos e em ciência, logo percebe que Daniel, um poeta, não combina em nada com ela, mas acaba aceitando o desafio. Assim, eles andam juntos por Nova York, tentando descobrir o que será de seu futuro, ao mesmo tempo em que conhecem um ao outro. Natashaé completamente racional, enquanto Danielé um romântico, mas eles acabam se dando bem, mesmo tendo tudo para dar errado. Mas será que um dia de paixão, aventuras e confissões será o suficiente para garantir que eles tenham um felizes para sempre?
A LEITURA
Eu estava animada para ler O Sol Também É Uma Estrela, mas não esperava me apaixonar tanto pelo livro, como aconteceu logo nas primeiras páginas. Todo começa com a escrita da autora. Nicola Yoon narra a história pela perspectiva alternada da Natasha e do Daniel. Contudo, há alguns capítulos também em terceira pessoa, falando sobre alguns personagens secundários e outras coisas mais. A escrita da Yoon é gostosa e fluída, com toques de poesia e humor. Os capítulos do livro são super curtinhos, algo que não gosto muito, mas que não chegou a me irritar durante a leitura. Contudo, o que mais me encantou foi a construção da história.
Em O Sol Também É Uma Estrela temos uma trama aparentemente clichê: a de um jovem casal, completamente opostos, que se conhece e se apaixona por acaso em apenas um dia. Contudo, o livro acaba sendo muito mais do que isso. Primeiramente, é fascinante como a autora conseguiu, sem deixar a história entediante, mostrar como pequenas coisas, escolhas e acontecimentos levaram Daniel e Natasha a se conhecerem e como a história deles poderia ter milhões de resultados diferentes se alguma coisa mudasse. Mas, O Sol Também É Uma Estrela também surpreende e encanta ao trazer protagonistas de etnias diferentes e histórias inusitadas, já que, diferente da maioria dos romances jovens, temos uma garota negra jamaicana, e imigrante ilegal, que se envolve com um garoto filho de imigrantes coreanos, mas criado nos Estados Unidos.
Entretanto, a diversidade étnica de O Sol Também É Uma Estrela não é só para chamar atenção. Nicola Yoon traz várias questões a respeito: ela fala sobre preconceito e racismo, sobre a cultura jamaicana e coreana, sobre todas as expectativas e dificuldades de ser um imigrante, legal e ilegal, e muito mais. Ao longo do livro, a autora também aborda problemáticas da juventude como um todo, como a pressão da escolha profissional e as dificuldades de relacionamento entre irmãos e entre pais e filhos. Com um ar muito poético e envolvente, O Sol Também É Uma Estrela narra uma história de amor que também fala sobre dor, medo, segredos, paixão, esperança e amizade. Com reviravoltas muito inesperadas, a história nos surpreende e emociona, além de nos fazer pensar sobre destino e sorte, sobre porque as coisas são como são e somos quem somos, sobre o sentido da vida e como ela é bela e especial. Essa é uma leitura marcante e apaixonante.
OS PERSONAGENS
Grande parte do grande charme de O Sol Também É Uma Estrela são seus personagens. Começando pelos protagonistas comuns, ao mesmo tempo em que únicos. Tanto Natasha quanto Daniel são jovens como quaisquer outros, cheios de medos e sonhos. Contudo, eles têm dificuldades próprias: Daniel não sabe como impor sua vontade para os pais, enquanto Natasha precisa descobrir como lidar com a deportação da sua família, que estraga todos os planos que ela tinha feito para si mesma. Apesar de serem tão diferentes - Danielé um poeta sonhador que acredita em amor à primeira vista, mas não sabe o que quer da vida, enquanto Natashaé apaixonada por ciência e fatos, uma garota cínica que já traçou ela mesma todo o seu destino -, os nossos protagonistas acabam por estar em um mesmo estado emocional: os dois não sabem lidar com a frustração e temem aquilo que o futuro reserva para eles. E, talvez seja isso que torna a história dos dois mais especial: ao mesmo tempo que se apaixonam um pelo outro, Natasha e Daniel aprendem a ser mais eles mesmos e a irem atrás do que querem, mas também aprendem a lidar com o fato de que nem sempre as coisas saem como planejamos.
“Natasha é diferente. Acredita no determinismo: causa e efeito. Uma ação leva a outra e a outra. As ações determinam seu futuro. Nesse sentido ela não é diferente do pai de Daniel. Daniel vive no nebuloso espaço intermediário. Talvez não estivesse destinado a conhecer Natasha hoje. Talvez tenha sido uma coisa aleatória. Mas… Uma vez que se conheceram, o resto, o amor entre eles, era inevitável.” Pág. 165
Eu adorei tanto a Natasha e Daniel, apesar de que ela foi minha favorita, já que me identifiquei bastante com seu jeito crítico e racional de ver o mundo. Com um envolvimento rápido, mas divertido e inusitado, o desenvolvimento do relacionamento dos dois é apaixonante e cativante. A história de Natasha e Daniel é muito fofa e provoca várias emoções. Contudo, O Sol Também É Uma Estrela traz vários personagens secundários, todos com personalidades e questões próprias que também são desenvolvidas ao longo da trama. Se, por um lado, eu odiei tanto o irmão do Daniel como o pai da Natasha, eu adorei a mãe do Daniel, assim como a secretária do homem que entrevistaria o Daniel e o advogado que tenta ajudar a Natasha.
A EDIÇÃO
A tradução de O Sol Também É Uma Estrela está perfeita e o texto sem qualquer tipo de erro. A diagramação é simples, mas o único detalhe que traz, as ilustrações no início de cada capítulo, é muito fofo. A capa do livro é simplesmente perfeita, ainda mais quando você vê como ela é feita – com linhas de diversas cores ligadas por pregos (veja o vídeo aqui). As cores fortes e fofas da capa a fazem combinar com a história, já que transmite o mesmo ar singelo, jovem e inspirador do livro.
CONCLUSÕES FINAIS
O Sol Também É Uma Estrelaé aquele tipo de livro para se devorar de uma vez só, mas que acaba ficando na sua mente por muito tempo depois do fim da leitura. A partir de um início aparentemente clichê, o livro nos entrega personagens únicos e fortes, além de representativos, e uma história de amor jovem emocionante. Abordando temas como racismo, cultura jamaicana e coreana, o medo do futuro, as dificuldades das relações familiares, sonhos, desejos e medos da juventude, O Sol Também É Uma Estrela se torna uma obra surpreendente, marcante e muito cativante.
Com muitas risadas, suspiros e algumas lágrimas, a obra nos leva a refletir e mostra como nosso mundo caótico e incerto guarda pequenas alegrias e momentos especiais, além de pessoas apaixonantes, que fazem a vida não só valer a pena, como algo belo e especial. O Sol Também É Uma Estrela foi uma leitura que me deixou inspirada, apaixonada pela vida e suas possibilidades, além de bastante curiosa para conhecer mais obras da autora. E claro que recomendo esse livro para todos!
Com muitas risadas, suspiros e algumas lágrimas, a obra nos leva a refletir e mostra como nosso mundo caótico e incerto guarda pequenas alegrias e momentos especiais, além de pessoas apaixonantes, que fazem a vida não só valer a pena, como algo belo e especial. O Sol Também É Uma Estrela foi uma leitura que me deixou inspirada, apaixonada pela vida e suas possibilidades, além de bastante curiosa para conhecer mais obras da autora. E claro que recomendo esse livro para todos!
QUOTES FAVORITOS
“Nomes são coisas poderosas. Servem como marcadores de identidade e uma espécie de mapa, localizando a pessoa no tempo e na geografia. Mais do que isso, podem ser uma bússola.” Pág. 21
“Ninguém quer acreditar que a vida é aleatória. Meu pai diz que não sabe de onde vem meu ceticismo; mas não sou cética. Sou realista. É melhor ver que a vida como ela é, e não como a gente quer que seja. As coisas não acontecem por algum motivo. Simplesmente acontecem.” Natasha, Pág. 34
“Mas alguma coisa em Natasha me faz pensar que minha vida poderia ser extraordinária.” Daniel, pág. 64
“- A vida é mais longa ainda se você a passa perseguindo sonhos que nunca, jamais, vão se realizar.” Natasha, pág. 83
“Talvez parte de se apaixonar por alguém também seja se apaixonar por si mesmo. Gosto de quem sou com ela. Gosto de dizer o que estou pensando. Gosto de prosseguir apesar dos obstáculos que ela coloca. Normalmente eu desistiria, mas não hoje." Daniel, pág. 124
“ - (…) uma ver li uma coisa de um poeta chamado Warsan Shire. Diz que você não pode fazer um lar a partir de seres humanos, e que alguém deveria ter lhe dito isso.” Natasha, pág. 162
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