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Resenha: A Rainha de Tearling - Erika Johansen

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A HISTÓRIA

Há muita coisa que Kelsea não sabe. Criada em uma cabana isolada, tudo o que a jovem conhece do mundo vem dos muitos livros que ela leu ou do misterioso casal que a criou. Kelsea não faz ideia, por exemplo, de quem é seu pai, de porque ela não pode tirar a joia que sua mãe lhe deu antes de escondê-la do mundo ou como o resto do país vive. Contudo, a garota cresceu sabendo de uma coisa: um dia viriam a sua procura e exigiriam que ela ocupasse seu lugar de direito como a Rainha de Tearling, o modesto e conturbado reino onde ela nasceu, viveu e que está destinada a governar. 

Contudo, apesar de que, quando criança, sonhava em conhecer seu castelo e usar longos e belos vestidos, agora, aos dezenove anos, Kelsea sabe que seu destino como monarca não será cercado de luxos e alegrias. Desde a morte da sua mãe, seu tio reina de forma fútil e todo o país teme entrar em guerra novamente com o reino vizinho, Mortmesne, governado pela misteriosa e sanguinária Rainha Vermelha. O dia chega e os temores de Kelsea se concretizam. A Guarda da Rainha vem buscá-la, um grupo de soldados reais que não esconde seu desprezo pela princesa perdida, mesmo tendo jurado morrer por ela se necessário, os Guardas não acreditam que será aquela garota a mudar a triste realidade de Tearling. 


E já na jornada para Nova Londres, a capital de Tearling, Kelsea percebe que seu futuro será sombrio e perigoso. Mercenários, a mando de seu tio, estão tentando matá-la a qualquer custo. Para completar, Kelsea se choca com a triste realidade de seu reino, marcado pela pobreza e a injustiça, e se decepciona ainda mais quando descobre que sua mãe fora uma bela, amada e fútil rainha, que sacrificou seu reino para ter uma vida de prazeres e luxo. É por isso que um lado de Kelsea deseja apenas voltar para a cabana onde cresceu e passar seus dias enfiada em livros. Contudo, a pesada e misteriosa joia em seu pescoço, prova de que ela é a herdeira legítima, não só a lembra de que seu dever é governar, mas faz a garota acreditar que é sua missão de vida fazer o melhor que puder pelo seu reino.

“— Minha vida e aquele trono são uma coisa só — respondeu Kelsea com a voz rouca.” Pág. 143

Mesmo não estando nem um pouco preparada para tal, Kelsea decide que se, de qualquer maneira, ela morrerá, cedo ou tarde, por causa do trono, é sua obrigação dedicar a sua vida, seja ela curta ou longa, pelo seu reino. E são muitos aqueles que estão torcendo contra ela. Mercenários, salteadores, membros da igreja, nobres e até mesmo seu próprio tio não hesitarão em tentar matá-la e tomar o poder. Mas após uma vida de preparação, Kelsea se esforça para fazer jogadas inteligentes e não se deixar enganar nem por aqueles que conspiram contra ela, nem pelos luxos que o poder podem oferecer. Contudo, será que Kelsea conseguirá viver o suficiente para colocar a coroa em sua cabeça e ser a rainha firme, mas justa que quer ser? Ou o fardo é grande demais para a garota?


A SÉRIE

A Rainha de Tearlingé o primeiro volume da série de mesmo nome, de Erika Johansen, que, até o momento conta com três volumes e boatos de que será adaptado para o cinema com ninguém menos que Emma Watson no papel da protagonista. Uma mistura de fantasia, ficção científica e distopia para jovens adultos, a saga conta a história de Kelsea, a jovem rainha do reino de Tearling, que precisa lutar pela própria vida e lidar com perigosos inimigos, especialmente a misteriosos Rainha Vermelha, governante de um país vizinho, para tornar seu país justo e próspero novamente.

“— Era uma vez um reino chamado Tearling. O nome veio do fundador William Tear, um utopista que sonhou com uma terra de abundância para todos.” Pág. 74


A LEITURA

Eu estava curiosa para ler A Rainha de Tearling. Contudo, sem grandes expectativas, pois nunca tinha ouvido falar do livro ou da autora. Portanto, podem imaginar a minha surpresa em ser cativada logo nas primeiras páginas do livro. Erika Johansen tem uma narrativa em terceira pessoa fluída e envolvente. Com diálogos inteligentes e detalhes na medida certa, a escrita da autora é também carregada de uma pitada de mistério e magia, que nos deixam fascinados por cada palavra e sedentos para saber o que vem a seguir.

“— Um dia você vai entender — afirmou Carlin, apertando a mão da menina com força. — Vai entender por que tudo isso foi necessário. Cuidado com o passado, Kelsea. Reine com sabedoria.” Pág. 18

A autora também precisa ser elogiada pelo mundo que criou. Tearling e os reinos vizinhos estão em um universo que, de alguma forma, se liga ao nosso, mas sem perder seu ar fantástico e intrigante. Nessas novas terras, encontramos uma mistura de pós-apocalipse distópico com reinos medievais, que acaba nos enveredando por uma trama de disputas pelo trono que em muito me lembraram o seriado de TV, Game of Thrones. Apesar de bem menos sanguinária que George R. R. Martin, Erika Johansené igualmente criativa e, mesmo esta sendo uma história voltada para jovens, não deixa de lado cenas mais pesadas, como de assassinatos e tráficos de escravos, o que se acaba sendo positivo, já que, em meio a fantasia, a obra consegue ser também realista e crítica. 

Ao mesmo tempo em que nos mostra o lado sujo e corrupto do poder, com governantes fúteis e cruéis, A Rainha de Tearling também nos leva para um universo de joias mágicas e heroínas dispostas a fazer o bem. Apesar de, como já comentei, ter algumas cenas mais tensas e realistas, A Rainha de Tearling é, acima de tudo, uma obra de fantasia mágica e viciante. A trama foi muito bem construída, envolta em segredos e mistérios que nos deixam curiosos, ao mesmo tempo em que entrega momentos de luta, fuga e perseguição, que deixa o leitor com o coração na mão. A Rainha de Tearling ainda tem alguns momentos de drama, como Kelsea descobrindo quem sua mãe era de verdade e percebendo que, como bem diz o ditado, “pesada é a cabeça que usa a coroa”. 


OS PERSONAGENS

Apesar de ter uma narrativa envolvente e uma trama surpreendente, o grande charme de A Rainha de Tearlingé sua protagonista. Kelseaé, ao mesmo tempo, única e uma garota como outra qualquer. É fácil se identificar com suas inseguranças quanto a seu corpo e a seu propósito de vida, seu medo de não ser o suficiente, sua atração por um homem misterioso, entre outras coisas mais. Contudo, também é fácil admirar a força da garota, sua paixão pelos livros, sua vontade de fazer o bem e de liderar seu povo para tempos melhores. Kelsea é forte, inteligente, esforçada e desafiadora, o tipo de mocinha empoderada que nos cativa e nos inspira a ser nós mesmas garotas e mulheres melhores, mesmo sem joias mágicas, no nosso próprio mundo.

“— Você é jovem e corajosa, Alteza. É uma qualidade desejável em uma guerreira, mas não em uma rainha.” Pág. 53

A Rainha de Tearling tem outros personagens muito interessantes, como Clava, o misterioso e dedicado chefe da Guarda da Rainha, disposto a morrer por Kelsea e também de ajudá-la a se tornar uma boa governante, e Pen, o jovem Guarda que foi o primeiro a acreditar na força e coragem da protagonista. A Rainha Vermelha também foi uma das personagens que mais chamou a minha atenção. Uma vilã de primeira, ela é má, sanguinária e dotada de poderes mágicos e fatais. Contudo, o mistério sobre sua origem me faz imaginar se não há algo, um vilão ainda pior, que tornou a mulher quem ela é. Contudo, meu personagem secundário favorito foi o igualmente misterioso Fetch, um famoso salteador, que está mais do que interessado no poder de Kelsea, mas que ainda não sabemos se está ajudando a garota, protegendo-a ou usando-a para conseguir o que quer. Prevejo muitas faíscas ainda entre ele e a jovem rainha de Tearling (já que é o meu maior shipp do livro!). 


A EDIÇÃO

A Rainha de Tearling tem uma simples, mas boa edição. A tradução do livro está perfeita e o texto sem qualquer tipo de erro. A diagramação é simples, sem qualquer detalhe, e apesar de gostar sempre de livros com folhas amareladas, achei o tamanho da fonte desse um pouco pequeno. Amei o mapa de Tearling e seus reinos vizinhos no início do livro, assim como a capa de A Rainha de Tearling, que é simples, mas bonita, e combina bastante com o livro.

CONCLUSÕES FINAIS

A Rainha de Tearlingé o começo do que promete ser a minha nova série jovem queridinha. Com um mundo que se assemelha a um reino medieval pós-apocalíptico, essa obra mistura bem distopia e fantasia, com uma trama recheada de mistérios e batalhas, envolvendo disputas por trono dignas de Game of Thrones. Com pitadas ainda de magia, A Rainha de Tearling proporciona uma leitura fascinante e viciante, com uma narrativa envolvente e muito, muito surpreendente e emocionante. O livro ainda nos entrega uma mocinha empoderada e inspiradora, que nos conquista com sua força e determinação em fazer o bem. Estou simplesmente apaixonada por A Rainha de Tearling, recomendando-o para todos que gostem de histórias do gênero e torcendo para que o próximo volume seja lançado o mais rápido possível! 


QUOTES FAVORITOS

Kelsea experimentou dizer a palavra outra vez, embora a sensação fosse a de estar com a boca cheia de terra: rainha. Uma palavra agourenta, pressagiando um futuro sombrio.” Pág. 12

"Kelsea era a princesa coroada de Tearling e estava fazendo dezenove anos, a idade em que os monarcas de Tearling ascendiam ao trono desde a época de Jonathan Tear. Se fosse preciso, a Guarda da Rainha iria arrastá-la para a Fortaleza contra sua vontade e a amarraria ao trono, onde permaneceria sentada, em meio a veludo e seda, até ser assassinada.” Pág. 13

Carlin dizia que história era tudo, pois era da natureza do homem repetir os mesmos erros.” Pág. 14

— Quem é você?
— Sou a morte agonizante de Tearling. Perdoe nossos modos.” Pág. 59



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