A narrativa em forma de cartas é chamada de epistolar. O objetivo de se contar uma história de tal maneira, através das palavras escritas dos próprios personagens, é dar maior realismo a uma história. A técnica foi muito comum no passado, em clássicos como Drácula, por exemplo, mas ainda é vista em livros contemporâneos, como Cartas de Amor aos Mortos. Há até mesmo autores que se "atualizaram" e trocaram as cartas por e-mail, como a Meg Cabot na incrível e divertida série Garotos (O Garoto da Casa ao Lado, Garota Encontra Garoto e Todo Garoto Tem).
Para mim, o mais interessante de uma história contada através de cartas é que o próprio texto, o modo como ele foi construído, nos diz bastante sobre o personagem que o está escrevendo. Se a carta é cheia de humor, ou está cheia de pensamentos obscuros, as palavras daquele personagem acabam contanto muito mais do significam a primeira vista. Outro fator interessante de obras epistolares é a sensação de confidencialidade da história. É fato que todos nós adoramos nos meter na vida alheia e é exatamente isso que fazemos com livros narrados em cartas: nós bisbilhotamos e mergulhamos nos escritos mais íntimos dos personagens. E por gostar tanto desse estilho de escrita, hoje separei 4 livros incríveis que são narrados através de cartas! Confiram:
Foto do blog Barricada de Livros - Compre o livro Precisamos Falar Sobre O Kevin
E começando por um dos meus livros favoritos da vida, que já indiquei diversas vezes aqui no blog! O impactante e intenso Precisamos Falar Sobre o Kevin (Lionel Shriver) é narrado através de cartas de Eva para seu marido, já que ela precisa desesperadamente falar sobre o filho dos dois: Kevin, que matou 11 colegas de escola. Sem poupar palavras duras, Eva, pela primeira vez, diz a verdade para o marido: ela nunca quis ter filhos, nunca amou seu filho e de alguma forma sempre soube que havia algo obscuro e perigoso dentro do Kevin. Enquanto revela sua nova rotina, onde a única coisa que tem é o ódio do resto do mundo por ser mãe de um assassino, Eva também narra seu próprio passado e toda a sua relação conturbada com o filho. Precisamos Falar Sobre o Kevin não é uma obra fácil de ler, mas a narrativa epistolar é perfeita para nos transportar para dentro do mundo complicado de uma mãe e a relação estranha e complexa com seu filho sociopata.
“Sei que escrevi cartas para pessoas sem endereço neste mundo. Sei que vocês estão mortos. Mas posso ouvir vocês. Ouço todos vocês. Nós estivemos aqui. Nossa vida teve valor.” - trecho de Cartas de Amor aos Mortos
Mais uma leitura bem intensa, Cartas de Amor aos Mortos (de Ava Dellaira) traz, como o nome já diz, a correspondência de uma garota, Laurel, para as mais diversas personalidades (falecidas) que admira, como Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Heath Ledger, Judy Garland, Elizabeth Bishop, entre outras. Nas cartas, Laurel narra sua rotina preenchida de tristeza e incertas causadas pela morte trágica de sua irmã. A saudade, a confusão e a raiva do luto se misturam com os medos da garota, suas incertas sobre o futuro e um grande vazio existencial que, ela acredita, deve ter sido algo que os artistas mortos para qual escreve sentiram também em suas trágicas vidas. Apesar do tom melancólico e saudoso, Cartas de Amor aos Mortos não chega a ser uma obra triste, apesar de ser muito, muito emocionante. Essa é um livro sobre luto, perdão, autodescoberta, abuso, as indecisões e dúvidas típicas da adolescência, e mais. Contudo, Cartas de Amor aos Mortos é também sobre uma garota que vê o mundo de forma única e que encontra, através da escrita, uma forma de se libertar e de se encontrar.
Foto do blog Além do Livro - Compre o livro Drácula
Agora um romance epistolar clássico: Drácula (de Bram Stoker). Esse romance sobrenatural, que criou as histórias de vampiro como conhecemos nos dias de hoje, é narrado através de páginas de diário, telegramas, cartas e recortes de jornais. A história começa quando Jonathan Harker, um jovem advogado, vai para a Transilvânia a negócios. Lá ele conhece seu cliente, o misterioso conde Drácula, de quem acaba se tornando prisioneiro. Assim, Jonathan resolve entrar no jogo de Drácula e tentar descobrir suas verdadeiras intenções. De todos os livros da lista, Drácula é, talvez, a leitura mais difícil. Narrado por cartas e diários de diversos personagens, a linguagem da obra (lançada em 1987) não é das mais fáceis. Contudo, esse é um clássico do terror, da literatura de vampiros e dos romances epistolares, que então mais do que merece ser lido.
“Só preciso saber que existe alguém que ouve e entende e não tenta dormir com as pessoas, mesmo que tenha oportunidade. Preciso saber que essas pessoas existem.” - quote de As Vantagens de Ser Invisível
Não é exagero chamar As Vantagens de Ser Invisível de um clássico contemporâneo. Com um ar melancólico e jovem como o de Carta de Amor Aos Mortos (livro que se inspirou na obra de Stephen Chbosky), a obra é narrada através de cartas de Charlie para um amigo misterioso e sem nome. Em sua correspondência, Charlie conta sua dificuldade de se adaptar a escola e a grande ansiedade pela qual está sofrendo desde que seu melhor e único amigo morreu. Contudo, a vida do garoto parece mudar quando dois veteranos, Patrick e Sam, se aproximam dele e o apresentam a um mundo completamente novo de festas, músicas, drogas, amizade, amor e sexo. As cartas de As Vantagens de Ser Invisível trazem um tom tão honesto e um ritmo fluído que tornam a leitura muito cativante. Algo curioso é que a linguagem vai mudando conforme o Charlie também muda. Das primeiras cartas de escrita pobre e infantil, a narrativa vai se tornando mais complexa e profunda conforme o narrador vai crescendo ao longo da história. As Vantagens de Ser Invisível é uma obra deliciosa e encantadora sobre amizade, juventude e amadurecimento, que encanta os leitores de todas as idades e jeitos.
- Leia a resenha completa de As Vantagens de Ser Invisível
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Então, o que acharam da listinha de hoje? Já conheciam esses 4 livros narrados em forma de cartas? E quais obras com narrativa epistolar vocês já leram e mais gostaram? Não deixem de comentar!
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