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Resenha: Questão de Classe - Christina Dalcher

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A HISTÓRIA

Elena, Dra. Fairchild, vive em um mundo perfeito. Em teoria.

Quando mais jovem, ela acreditou nas notas Q. Acreditou que classificar todos os cidadãos pelo seu desempenho escolar, notas, qualificações, tipo de emprego, ia ajudar a criar uma sociedade mais educada. Mais justa.

Hoje, ela sofre vendo seus alunos se mataram pra ter uma nota perfeita. Pior é assistir sua filha mais nova, Freddie, agonizar a cada prova, a cada crítica do pai. Antigamente, Freddie seria diagnosticada com Autismo. Hoje, um diagnóstico desses poderia arruinar sua nota Q e sua vida.

Só que Freddie já está se perdendo com a pressão. A ansiedade e o medo estão fazendo-a definhar. E, quando sua nota Q cai mais uma vez, ela é rebaixada para uma escola federal amarela, um internato distante para crianças sem futuro.

Algo se parte em Elena quando a filha é levada embora. Como ela pode continuar fingindo que ama o marido, que acredita no governo, que o sistema de notas Q é bom, quando sua pequena está sendo torturada em outro lugar?

Assim, Elena precisa fazer uma escolha. Ela vai continuar sendo a esposa, mãe e professora perfeita (e calada), ou vai abrir os seus olhos e lutar não só pela filha, mas por uma sociedade melhor?

VALE A PENA LER?

Eu conheci Christina Dalcher com Vox, sua outra distopia que apresenta um mundo assustadoramente similar ao de O Conto da Aia. Aqui, a autora também nos traz um vislumbre assustador do futuro, em uma distopia ainda mais realista.

Questão de Classe claramente se baseia em fatos reais, como o sistema de pontos que a China está experimentando em seus cidadãos, as escolas/asilos do passado para crianças com atrasos de desenvolvimento e campanhas governamentais baseadas em filosofias eugênicas.

O livro mostra bem como a sociedade atual continua reproduzindo preconceitos e usando tecnologias para perpetuar diferenças de classes e eliminar pessoas socialmente indesejadas. Este é um aviso sobre o perigo que uma sociedade supostamente meritocrata pode causar.

Ou seja, não é uma leitura fácil e não só pela temática. Christina Dalcher tem uma narrativa, infelizmente, arrastada. Seus capítulos são curtos e capturam a atenção do leitor ao se alternar entre presente e passado. Contudo, a linguagem mais rebuscada e o mergulho muito profundo nos pensamentos da protagonista, Elena, deixa a leitura lenta.


Os personagens, infelizmente, não cativam muito. Gostei bastante da autora retratar como uma criança autista pode sofrer em um sistema educacional rígido demais. Mas mesmo Freddie não tem muita personalidade. 

O livro deixa claro logo de cara quem são os vilões e quem são os personagens "um pouco menos piores". Pois um ponto positivo de Questão de Classe é justamente mostrar que somos humanos, com defeitos, e ajudamos também a perpetuar os preconceitos e misérias sociais da sociedade em que vivemos.

Em resumo, Questão de Classeé uma leitura densa e demorada. A trama não tem muita ação e demoramos mais da metade do livro pra entender sobre o que ele de fato se trata. Por outro lado, é uma distopia bem construída e realista, que traz reflexões importantes sobre o mundo que vivemos e o futuro classista, capacitista e preconceituoso que estamos ajudando construir. Não é uma obra pra qualquer leitor, mas fãs de leituras mais "cabeça" que não se importam com narrativas lentas vão gostar.

Título: Questão de Classe
Título original: Master Class
Autora: Christina Dalcher
Editora: Arqueiro
ISBN: 9786555650495
Ano: 2020
Páginas: 304
*O exemplar lido foi uma cortesia da editora Arqueiro
Compre:Amazon

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