Resenha: No Labirinto dos seus Olhos - Bruna Longobucco

Mateus fez seu próprio sucesso. Nascido e criado em Florianópolis, ele transformou uma modesta herança do avô em uma grande fortuna. Mas, com o dinheiro e o prestígio social veio também muitos relacionamentos por interesses e decepções. Mateus ainda está se recuperando da traição da ex-noiva quando o amigo, Daniel, lhe sugere uma mudança: seis meses em Belo Horizonte, como professor substituto. Apesar de ser formado em história, há muitos anos Mateus não dava aulas, mas acaba aceitando o pedido do amigo.

Carla, em seus 17 anos, tem sonhos modestos: devorar o próximo romance da sua lista e entrar na UFMG para cursar Letras. Fã de Jane Austen, Carla se acha sem graça e tímida demais para viver uma história de amor digna dos livros. Sua vida não tem muitas emoções, apesar de que quando tropeça e cai aos pés do novo professor de história, mais parece que está dentro de uma dessas comédias românticas. Bonito, inteligente e educado, Carla apelida o novo professor de Sr. Tudo, mas tenta resistir quando seu coração começa a desenvolver sentimentos por ele.

Mateus bem que quis resistir e se esforçou bastante até mesmo quando sua aluna mais querida, uma jovem inteligente e doce, confessa o seu amor por ele. Mas, no baile de formatura, quando ele oficialmente deixa de ser professor de Carla, Mateus se entrega a paixão. Muitas coisas dentro dele dizem que é errado, afinal, há dez anos de diferença entre os dois e Carla não sabe que ele está guardando sua real profissão em segredo. Mas, a paixão fala mais forte e eles embarcam em um romance digno de filmes. Em alguns momentos Carla acha que está sonhando, mas nunca foi tão feliz quanto ao lado de Mateus. Entretanto, quando a vida leva os dois de BH para Floripa, segredos são revelados e, antes de ter o seu final feliz, o casal precisará enfrentar conflitos intensos e perigosos.

A sinopse de No Labirinto dos Seus Olhos me intrigou logo de cara. Eu não conseguia ver como a autora faria um relacionamento amoroso entre um professor e uma aluna soar certo, muito menos romântico. Particularmente, acho que a diferença de idade, assim como de status (o poder e influência social que um professor tem sobre uma aluna, assim como um chefe sobre a secretária, já deixa todo o relacionamento desequilibrado), não permitiria que um romance como esse se tornasse saudável e atrativo na vida real.

Mas, claro, No Labirinto dos Seus Olhosé um obra de ficção, que segue as próprias regras e nem sempre imita a vida, como esta imita a arte. Contudo, se o começo desse romance não me agradou, ou convenceu com os clichês da aluna bobinha e sem graça que, literalmente, cai aos pés do professor, o restante da trama conseguiu me cativar. A obra tem, a seu favor, o fato de englobar um grande período de tempo da vida dos personagens, assim, acompanhamos o seu relacionamento por anos a fio, e todas as mudanças pelo qual ele passa.

Bruna Longobucco ganhou o meu respeito ao conseguir deixar a história, ao mesmo tempo, com ar de conto de fadas e de realidade. Por um lado, o sonho da mocinha de se envolver com o professor é realizado. Já, por outro, a autora faz questão de colocar, tanto na fala de outros personagens (como a mãe da Carla), como na própria história em si, elementos que mostram as dificuldades e empecilhos do relacionamento, como o fato da diferença de idade e experiência do casal. No Labirinto Dos Seus Olhos, em sua trama bem bolada, também mostra que mesmo uma paixão inocente tem consequências e um casal que começa a se envolver já com segredos e verdades não ditas vai sim enfrentar muito desafios para ficar juntos, tanto da sociedade, como de si próprios.

Além de bem desenvolvida, a trama é cheia de reviravoltas. Os acontecimentos são bem à lá “novela mexicana”, com direito a momentos atrapalhados e divertidos, assim como dramas familiares complicados, perseguição de carro e revelações chocantes em meio a festas. Contudo, todas essas surpresas, mesmo que exageradas e fora da realidade, tornam a história movimentada e interessante (é bem como novela mesmo, você sabe que aquilo nunca aconteceria na vida real, mas mesmo assim precisa ver o que mais vão inventar no próximo capítulo). 

Felizmente, esse lado novelesco é um pouco acentuado pela narrativa da autora. O começo da leitura é lento, mas logo a narrativa ganha um bom ritmo e se torna mais agradável. Alguns trechos, em especial os diálogos, soam forçados, mas o mesmo tempo poéticos. Longobucco acrescenta algumas reflexões interessantes a narrativa, especialmente sobre amor próprio, culpa, luto, relacionamentos tóxicos e mais. Mas, o que mais conta a favor da narrativa em terceira pessoa de No Labirinto Dos Seus Olhos é que ela nos faz mergulhar nos personagens e, logo, nos cativar a eles. Sem falar que acompanhar um espaço de tempo de anos em poucos capítulos deixa a leitura mais ágil e intrigante. Outro ponto positivo que vale a pena a menção: os belos cenários nacionais, que nos fazem conhecer um pouco melhor tanto Belo Horizonte, quanto Florianópolis, duas das mais importantes cidades do nosso país, mas que geralmente não viram cenário de livro...

No Labirinto Dos Seus Olhos têm um bom número de personagens, infelizmente, todos estereotipados e rasos. Contudo, no caso dos protagonistas, como acompanhamos em primeira mão todos os perrengues que eles enfrentam, é difícil não se cativar a eles. Já os secundários são os principais responsáveis pelos momentos de descontração e humor da obra, então também realizam o seu papel, mesmo sendo igualmente clichês.

Carla e Mateus se revezaram entre o meu ódio e empatia. No início, achei a mocinha bem chatinha, o máximo dos clichês do romance: Carla é a garota sem graça, leitora ávida, tímida e romântica, além de nem um pouco ambiciosa. Foi difícil simpatizar a ela, ainda mais com sua dificuldade de não cair no chão a cada momento e sua inocência em achar que tudo vai se resolver em um passe de mágica. Mas, felizmente, a personagem amadurece horrores ao longo da história. Durante o livro, acompanhamos o seu amadurecimento, conforme ela percebe que não pode limitar sua vida a Mateus e começa a buscar sonhos e realizações.

Enquanto fiquei cada vez mais contente com o desenvolvimento de Carla, que vai se tornando uma mulher independente e decidida (e capaz de ficar de pé sobre os próprios pés, tanto metafórica quanto literalmente), Mateus fez o caminho contrário. De cara rico, bonito e inteligente, ou seja, perfeito, ele se torna um ser humano… mas não um dos melhores. Já foi um pouco difícil simpatizar com um homem adulto que se apaixona por uma adolescente (desculpa, mas é um pouco bizarro), ainda mais um que mente sobre quem é verdadeiramente. Mas, o pior de Mateus é que ele resiste do início ao fim as mudanças de Carla. Ele quer sempre controlá-la, isso quando não está a culpando por tudo e simplesmente a tratando como se fosse burra e insignificante.

Por um lado, gostei dessa humanização do Mateus: do mesmo jeito que as mulheres reais não são frágeis donzelas como as dos livros, os homens não são cavalheiros perfeitos e gentis que devem nos salvar. Contudo, tornar o Mateus “real” que se desenvolve ao longo do livro é bem pouco atraente e, em muitos momentos, torci foi para a mocinha ficar longe dele - afinal, o fato de um homem ser tão psicologicamente complicado e com cicatrizes emocionais como qualquer mulher não é justificativa para ele agir como um babaca e ser perdoado no final de qualquer maneira... Há, no desfecho, uma ideia de redenção para o Mateus, mas o estrago já tinha sido feito e eu terminei No Labirinto Dos Seus Olhos sem gostar dele.

O livro tem uma edição simples. A diagramação traz alguns detalhes, como mapas de Floripa e BH e ilustrações de labirintos. Não há erros no texto e a fonte é de um bom tipo e tamanho. Infelizmente, as páginas são brancas e há, ao longo da história, várias notas de rodapé da autora que, ao meu ver, são desnecessárias. Eu gosto da capa de No Labirinto Dos Seus Olhos, ela combina com o ar romântico, jovem e fantasioso do livro.

No Labirinto Dos Seus Olhosé um livro que, como qualquer outro, tem erros e acertos. Na primeira parte, podemos citar personagens e histórias clichês, assim como novelescas; em especial um mocinho que era para ser “complicado de uma forma atraente”, mas se torna mais “complicado de uma forma assustadora”. O fato do relacionamento dos protagonistas começar em uma dinâmica desigual de professor e aluna também não é muito atrativo.

Mas, de pontos positivos, também há muito o que dizer. No Labirinto Dos Seus Olhos traz dois belos cenários nacionais (BH e Floripa) que foram bem aproveitados e se tornam quase que personagens na história. Falando nela, a trama mesmo que com cara de novela da Globo, tem reviravoltas interessantes e emocionantes, que deixa a leitura mais movimentada, assim como uma mocinha que cresce bastante. No Labirinto Dos Seus Olhos ainda consegue agregar um pouco de realidade ao romance de conto de fadas e aborda questões como amadurecimento, amor-próprio, luto, culpa, preconceito, relacionamentos tóxicos e complicadas relações familiares.

Com altos e baixos, No Labirinto Dos Seus Olhos foi uma leitura de começo lento, mas que conseguiu me cativar e me deixar intrigada até o final para saber o destino dos personagens, mesmo ele não fugindo do esperado. Por fim, Bruna Longobucco demonstra grande potencial de prender o leitor, mas dificuldade de se livrar dos clichês. Eu gostaria de ler mais obras dela e recomendo que cada um tire sua própria opinião sobre No Labirinto Dos Seus Olhos.