Resenha: A Queda De Lorde Drayson - Rachael Anderson

Lucy Beresford não é o clichê da filha do vigário. Por mais que tente não mentir em honra ao falecido pai, ela é nenhuma garota tímida e não se envergonha de ser uma mulher que fala o que pensa e faz o que quer. O que frequentemente a coloca em apuros.

Mas, dessa vez, é uma mentira que começa a melhor e mais maluca aventura de sua vida. Quando o novo conde de Drayson, Colin, dono da propriedade na qual Lucy e sua mãe moram, bate na sua porta para anunciar seu despejo, ela fica em chamas.

Por isso, quando o mesmo Lorde Drayson cai do cavalo, bate a cabeça e perde a memória de quem é, Lucy não resiste a lhe dar uma lição e afirma que ele não é nada mais do seu servo. Colin tem uma sensação profunda de que é do tipo que dá ordens, não que recebe, mas não tem alternativa a não ser acreditar na sua bela e suposta patroa.

Os primeiros dias de trabalho pesado são difíceis, mas logo Colin se acostuma a rotina e até mesmo passa a gostar dela. Mais do que isso, seu passatempo preferido passa a ser provocar Lucy e de antagonistas naturais eles se tornam amigos. Conforme vai ficando íntima de Colin e vendo seu lado gentil e trabalhador, Lucy começa a se sentir culpada pela sua mentira. Mas como ela pode sair dessa confusão sem acabar sem moradia, ou com o coração partido?

A Queda De Lorde Draysoné o primeiro dos três volumes da série Tanglewood, da norte-americana Rachael Anderson. Toda a saga traz histórias de amor independentes que se passam na bela propriedade de Tanglewood.

No livro 1, A Queda De Lorde Drayson, o lorde que dá nome ao título acabou de herdar o lugar e quer vendê-lo. Contudo, não esperava que Lucy, moradora da casa de viúva de Tanglewood, arrumasse uma maneira inusitada de tentar impedi-lo. 

No livro 2, A Ascensão de Lady Notley, o novo dono de Tanglewood, o soturno Jonathan Ludlow, fica encantado com sua nova governanta, a inexperiente e corajosa Srta. Notley, que está fugindo de um noivado indesejado.

No livro 3, The Pursuit of Lady Harriett, ainda não publicado no Brasil, a protagonista é Harriett, irmã de Lorde Drayson. Na sua história, ao visitar Tanglewood, Harriett acaba se envolvendo com o tenente Christopher Jamison, um homem perigosamente sedutor.

Esse é o primeiro livro que leio de Rachael Anderson e a autora já me conquistou. Mesmo que não muito distinta, sua escrita é boa e flui com rapidez. Com poucas descrições e diálogos gostosos e rápidos, que poderiam usar ainda mais de ironia, a narrativa em terceira pessoa do livro é cativante. 

Apesar de que gostaria de que se focasse um pouco mais nos pensamentos e sentimentos de Colin, a autora nos dá bons vislumbres do mundo interior de Lucy e sua personalidade vivaz é bem transmitida através da narrativa.

A história de A Queda De Lorde Drayson começou muito bem, mas caiu em clichês lá pela metade do livro. Apesar de fantasiosa, a premissa do lorde arrogante que perde a memória e é feito de servo é tão gostosa e engraçada quanto eu imaginava. É muito divertido ver o mocinho se render ao trabalho duro e acabar mostrando o melhor de si quando não lembrava que era um conde metido a besta. 

Mas, chega uma hora que Colin recupera a memória e, por mais que tenha ficado feliz por a autora não ter arrastado esse conflito por toda a trama (o que seria forçado demais), não gostei das novas questões que ela traz para o relacionamento dos mocinhos. Após a farsa de Lucy ser exposta, A Queda De Lorde Drayson cai nas rotina dos romances de época, retratando jantares e passeios pelo campo, carregando a velha questão: os mocinhos vão se casar ou não? A resposta, vocês podem imaginar, é boa.

Por um lado, esse romance que se passa no campo, com acontecimentos igualmente bucólicos, remete um pouco a clássicos do gênero como as obras de Jane Austen. O fato do livro não ter qualquer conteúdo erótico, como as obras mais modernas, reforçam essa impressão. E esse retorno ao começo do gênero é interessante, mas, confesso, tedioso. A metade final do livro é chatinha e deixou a desejar como desfecho para um início que foi tão engraçado e viciante.

Como a parte final da trama, as personalidades de A Queda De Lorde Drayson nos rementem bastante aos lordes, ladies e matronas de Austen. Contudo, diferente dos personagens de clássicos como Orgulho e Preconceito, falta substância para as criações de Rachael Anderson.

Lucy é a conhecida mocinha extrovertida, que foge dos padrões de sua época com sua ousadia em ser quem é e em ser feliz. Ela cativa, mas não impressiona. O mesmo acontece com Colin, cuja fachada de canalha logo se revela apenas uma fachada mesmo e aprendemos que o mocinho é inteligente e muito gentil.

Como casal, eles funcionam bem. Tanto Lucy e Colin gostam de se divertir e se entregam ao que a vida tem de melhor com muita facilidade. Eles quase não possuem defeitos ou comentem erros, então não há crescimento de verdade em nenhum deles, o que faz a obra soar menos rica. Os personagens secundários nos surgem como alívio cômico e peças nas engrenagens da trama, sem conflitos próprios que os tornem mais vívidos...

A Queda De Lorde Drayson foi o primeiro livro que li da editora Pausa, que entregou uma edição de qualidade. Fiquei feliz que o título original tenha sido apenas traduzido em vez de ser adaptado ou mudado. A Queda De Lorde Drayson funciona bem, é um nome curioso e, logo, atraente. 

A tradução é de A. C. Reis, que já traduziu obras de Lisa Kleypas e Tessa Dare, então não é surpreendente que mais uma vez tenha entregado um bom texto, sem qualquer erro aparente. A diagramação é simples, mas conta com um bom tamanho e tipo de fonte e espaçamentos. Confesso: o que me fez ler A Queda De Lorde Drayson foi a capa da obra. Os tons de rosa e verde usados são divinos e a modelo em roupas de época, segurando flores, combina perfeitamente com a trama e a mocinha que ama jardinagem.

A Queda De Lorde Drayson tem acertos e erros. O livro traz um ar bucólico que lembra bastante clássicos do gênero, como obras de Jane Austen. A premissa é divertida e a primeira metade do livro voa, com acontecimentos hilários e inusitados. A narrativa fácil e os bons diálogos é outro ponto bastante positivo.

Mas, a metade final de A Queda De Lorde Drayson é clichê e entediante. Os personagens também não são marcantes e, no geral, simplesmente falta algo que torne essa história incrível. A obra é uma boa e gostosa leitura, mas não vai se tornar favorita de ninguém. Apesar disso, fiquei curiosa para ler mais da autora.

Título: A Queda De Lorde Drayson

Título original: The Fall of Lord Drayson

Série: Tanglewood

Volume: 1

Autora: Rachael Anderson

Tradutora: A. C. Reis

Editora: Pausa

ISBN: 9788593745928

Ano: 2019

Páginas: 226