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Resenha: Emma - Jane Austen

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A HISTÓRIA

Emma Woodhouse pode ser jovem, mas é a mulher mais admirada da aldeia inglesa de Highbury. Ela é linda, inteligente e rica, como não poderia ser amada e mimada por todos? E a jovem usa sua influência sempre que pode, especialmente para bancar a casamenteira. Mas, ironicamente, a própria Emma não quer se casar, pois para isso teria que deixar o pai, um velho acometido mais por doenças imaginárias do que reais.

O enlace mais recente de Emma acaba levando sua melhor amiga e antiga governanta para longe de sua casa. Agora que sua companheira está bem casada, Emma precisa de uma nova e acaba escolhendo Harriet Smith. Inocente e de origem misteriosa, Harriet é divertida e manipulável o suficiente para se tornar parte dos joguinhos de vaidade de Emma.

Recentemente, Harriet ficou bem próxima de um jovem e gentil fazendeiro local, mas Emma acha que ele não é digno dela. Ela preferiria ver a amiga com Mr. Elton, o espalhafatoso, mas respeitável pároco local. Ninguém tem coragem de reprimir o papel de cupido de Emma a não ser o cavalheiro sr. Knightley.

Vizinho e amigo de longa data da mulher, Knightley é igualmente esnobe, mas mais cauteloso que Emma quanto a se intrometer na vida dos outros. Ele critica Emma por sua superficialidade e ousadia de achar que pode ser quem definirá o futuro alheio, especialmente os não tão afortunados como ela.

“Uma mulher não tem que casar com um homem só porque ele a pediu, ou porque está apaixonado por ela e é capaz de escrever uma carta razoável.”

Mas Emma não se importa muito com as reprimendas de Knightley. A chegada de Jane Fairfax, uma moça discreta e fria que Emma não suporta, e o charmoso Frank Churchill, torna tudo ainda mais interessante. Até que planos de Emma começam a dar muito errado e os corações partidos se acumulem em Highbury. Será que Emma é capaz de consertar todas as confusões que criou, antes que ela mesma acabe também saindo machucada?

A NARRATIVA E A TRAMA

Eu estava ansiosa para ler Emma, talvez o segundo livro mais famoso de Jane Austen, e acabei amando demais a obra. Primeiramente, gosto dos capítulos mais curtos e bem dinâmicos. A história de Emma é bastante movimentada apesar de, curiosamente, se tratar de uma representação do modo de vida de famílias da nobreza agrária da era georgiana. 

E, com cenas e acontecimentos comuns a época (como visitas para o chá, bailes, passeios no campo), Emmaé uma sátira social da superficialidade, vaidade e esnobismo das classes mais abastadas. Assim, não é de surpreender que a narrativa em primeira pessoa seja carregada de um humor irônico tipicamente inglês, assim como personagens caricatos, como a excessivamente falante srta. Bates e o hipocondríaco pai de Emma.

O livro Emma ainda entrega diálogos afiados e divertidos, verdadeiros duelos verbais são estabelecidos entre Emma e Knightley. Mas, os melhores momentos, para mim, são as cenas de fofoca e provocação recheadas de polidez que Emma se envolve com os outros personagens, assim como a leitura e análise coletiva das cartas que os personagens trocam.

É incrível pensar o quanto Emma foi revolucionário para sua época, já que escancarou a hipocrisia e preconceitos da sociedade e dos ricos sem pedir licença ou perdão. Além disso, um livro que retrata uma protagonista feminina tão forte e humana, com defeitos e qualidades, que diz com todas as letras que não quer se casar, foi de um impacto cultural incalculável para a época.

Emma ainda me surpreendeu por retratar uma personagem que é filha ilegítima e defender seu valor independente de sua origem obscura. E, como todas as obras de Jane Austen, a ideia dos personagens se casarem porque se amam, alguns até mesmo com parceiros de classes diferentes, é muito poderosa e provavelmente ajudou a começar a descontruir a ideia de casamento por dever/conveniência, tão forte na época.

A leitura desse livro é muito gostosa e mesmo mostrando uma realidade completamente diferente da nossa, nos identificamos com o gosto pela fofoca dos personagens, assim como os desencontros amorosos e reuniões sociais atrapalhadas com os amigos e vizinhos. Emma ainda é, claro, um romance bastante inesperado e quem, como eu, nunca tinha lido ou visto nada sobre a trama, vai se surpreender de verdade com as idas e vindas de certos casais. Mas, já entrego, o feliz e fofo final é garantido.


OS PERSONAGENS 

O melhor de Emma são seus personagens. As figuras secundárias são mais caricatas, mas igualmente divertidas e cativantes. Eu absolutamente amei e me identifiquei com o pai hipocondríaco de Emma, assim como a calada Jane Fairfax, que merecia um livro só seu.

A personagem mais bem desenvolvida é, claro, Emma. Linda, rica e inteligente, ela também é uma garota mimada, intrometida, vaidosa e manipuladora. A princípio é difícil gostar de Emma e sua arrogância, mas quando vemos que, no fundo, ela também é uma garota bastante solitária e sem muito o que fazer de sua vida, entendemos, em parte, porque ela faz tantos joguinhos.

Algo que amo nas obras de Austen é como ela traz sempre personagens mulheres fortes e humanas, com qualidades, mas também defeitos. E Emma tem vários deles, mas passa por uma jornada de amadurecimento incrível ao longo da história. Em parte, sua jornada é guiada por sr. Knightley, amigo que, por ser mais velho, me irritou que estivesse o tempo todo dizendo a Emma o que fazer e como agir.

“Desgostar de um homem apenas porque pensava de modo diferente do seu era algo que não combinava com a verdadeira liberalidade de pensamento de Mr. Knightley, a que ela já se acostumara. Com toda a boa opinião que tinha de si mesmo, Emma nunca poderia supor que ele fosse injusto com os méritos de outro.”

Mas as intenções de sr. Knightley são boas e mesmos sendo arrogante e esnobe como Emma, ele é mais pé no chão e trata todos com bastante respeito. Assim, é difícil não gostar dele logo de cara e torcer para que tenha um final feliz. Mas esse livro também traz outro mocinho bem competente, o muito charmoso Frank Churchill, que assim cria um triângulo amoroso com Emma e Knightley, deixando a trama ainda mais interessante.

A EDIÇÃO

Eu li a edição da Editora Landmark disponível no Kindle Unlimited, que funciona perfeitamente na plataforma. A tradução de Doris Goettemsé muito boa e não encontrei qualquer erro no texto. Essa edição é interessante para quem quer ousar ler a obra em inglês, mas ainda não tem segurança para isso, já que traz a obra traduzida e original no mesmo volume. Não gosto muito da capa, apesar da grande casa e o uso do dourado remeter bem aos cenários luxuosos de Emma.

CONCLUSÕES FINAIS

Emma foi uma deliciosa leitura do início ao fim, roubando de Orgulho e Preconceito o lugar de meu livro favorito de Jane Austen. Essa comédia satírica consegue, mesmo em seus capítulos curtos e acontecimentos da vida rotineira, entregar uma trama envolvente e crítica sobre a vaidade, futilidade e esnobismo da nobreza agrária da Inglaterra georgiana. 

Mesmo tendo sido escrito há mais de duzentos anos, Emma continua atual e relevante por mostrar as complicadas dinâmicas sociais entre ricos e pobres, além do gosto humano pela fofoca e intriga, e desejo intenso por amor e companhia. Mais do que isso, essa é uma trama de encontros e desencontros amorosos. É também sobre o amadurecer de uma jovem mimada, manipuladora e solitária, mas bastante empoderada para sua época. 

Emma conquista com uma narrativa bem-humorada e diálogos rápidos. Qualquer amante de romance de época precisa ler a obra, assim como quem gosta de um bom e divertido clássico com temáticas atemporais.

QUOTES FAVORITOS

“Ah, é claro – exclamou Emma – um homem nunca entende que uma mulher possa recusar uma proposta de casamento. Acham sempre que as mulheres devem estar dispostas a aceitar o primeiro que as peça.”

“O primeiro e pior erro fora da parte dela. Foi uma loucura, foi errado desempenhar um papel tão ativo para tentar unir duas pessoas. Era aventurar- se a ir longe demais, assumir um risco grande demais, tornando superficial o que devia ser sério, complicado o que devia ser simples. Ela estava tão preocupada e consternada que resolveu não fazer mais esse tipo de coisa.”

“As pessoas otimistas, embora sempre esperem que coisas melhores ocorram, não pagam por suas esperanças com uma depressão proporcional. Passam logo por cima do desgosto e começam outra vez a ter esperanças.”

“– Será até bom que isso aconteça, quanto mais cedo acaba uma festa, melhor.”

“Ela era sua Emma, prometida por palavra e sentimento, enquanto se dirigiam para a casa. E se ele conseguisse pensar em Frank Churchill naquele momento, teria até achado que era um bom rapaz.”

Título: Emma
Autora: Jane Austen
Editora: Landmark
ISBN: 9788588781542
Ano: 2010
Páginas: 400
Compre: Amazon
Encontre o livro:Skoob - Goodreads

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