A HISTÓRIA
Cécile é uma jovem francesa que tinha tudo. Aristocrata, descente de famílias nobres tanto da França quanto de Portugal, a garota cresceu em mundo de riqueza e privilégios. E Cécile sempre se sentiu ainda mais abençoada por ter pais amorosos e modernos, que mesmo em pleno século dezoito, a criaram para ser uma mulher inteligente, independente e dona de suas vontades. Entretanto, quando um acidente leva seus pais e seus dois irmãos, Cécile se vê sozinha pela primeira vez e á mercê do tio, um homem sem escrúpulos e sedento para usufruir parte da fortuna da garota.
Assim, Cécile é obrigada a atravessar o atlântico e fazer uma tortuosa viagem até Minas Gerais, onde seu noivo, o homem mais rico da região está a sua espera. Além de anos mais velho que ela, Euclides, futuro marido da garota, é um dono de escravos impiedoso, um cristão conservador e cruel, que usa a religião como desculpa para seus atos desprezíveis e que enxerga e trata mulheres, negros, índios e pobres como animais. A viagem de Cécile até Minas é supervisionada por Fernão, um português que cresceu no Brasil e que fez fortuna trabalhando para poderosos como Euclides. Contudo, cansado de cumprir tarefas impiedosas como transportar escravos, acompanhar Cécile será o último trabalho de Fernão, que quer parar de servir os outros, deixar tudo para trás e administrar suas próprias terras.
Curiosidade, temor e raiva são os primeiros sentimentos que invadem Cécile quando ela conhece Fernão. Ele é um homem bonito, que já viu muitos lugares e conheceu muitas pessoas, que trata os menos afortunados com respeito e carinho, mas que despreza nobres ricos como Cécile. E ela, que está tentando se agarrar a qualquer dignidade que a restou, acaba o tratando da maneira fria e esnobe que ele esperava. Contudo, conforme a difícil viagem para Minas se desenvolve, Cécile vê em Fernão uma oportunidade de fugir do casamento forçado. Contudo, por mais que tenha percebido na francesa uma garota gentil, inteligente e bonita, Fernão cumpre o seu trabalho e a entrega para Euclides.
Entretanto, ver Euclides maltratar a noiva logo após os primeiros dias de sua chegada, faz Fernão se arrepender e bolar um plano para livrar Cécile do homem, com a ajuda de alguns amigos, escravos da fazendo que também se afeiçoaram a francesa. Entre planos de fuga, Cécile e Fernão se aproximam bastante e o desejo que surgiu logo que se conheceram aumenta rapidamente. Contudo, em meio a tantos perigos que agora os cerca e o futuro incerto de ambos, haverá espaço para romance?
A LEITURA: UM ROMANCE NO BRASIL COLÔNIA
Eu fiquei bastante ansiosa pela leitura de O Amor nos Tempos do Ouro porque, além de não resistir a um romance de época, já li dois livros da autora e gostei de suas histórias e personagens. Com boas expectativas para a obra, fui cativada logo nas primeiras páginas e mergulhei de cabeça nos cenários e na época maravilhosamente retratados por Marina. A autora demonstrou um conhecimento incrível sobre os costumes da época, claramente houve uma grande pesquisa antes da escrita do livro, o que acabou criando uma obra culturalmente rica e que nos faz conhecer e nos sentir no Brasil Colônia do século dezoito.
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Achei realmente impressionante os cenários usados, que foram muito bem descritos, desde a natureza exuberante ainda nativa, até as grandes fazendas com suas senzalas e os quilombos. Gostei que Marina tenha se dedicado a falar em seu livro, isso sem perder o lado leve e fofo que o romance de O Amor nos Tempos do Ouro nos proporciona, sobre a escravidão e a situação dos negros na época. A autora mostrou o preconceito, o trabalho escravo, as punições desumanas, mas também a força e a resistência dos africanos roubados de sua terra e a importância da cultura deles, que constituiu grande parte da mistura que gerou a cultura brasileira. E nesse sentido, de mostrar como os diferentes povos e suas culturas geraram uma só nação, Marina se destacou e me impressionou ao trazer, na fala dos personagens, um pouco sobre como a nossa língua surgiu, mostrando como o português de Portugal se misturou com as línguas africanas e indígenas, assim como as de tantos povos europeus, como os franceses como Cécile, e gerou um idioma único que é o português brasileiro.
A escrita em terceira pessoa da autora é boa, detalhista na medida certa. A trama, apesar de não surpreender tanto, foi bem desenvolvida, especialmente, como já comentei, por conseguir expressar bem os costumes e modo de pensar da época. Um detalhe que amei foram os trechos do diário de Célile e cartas de Fernão entre os capítulos, assim como os trechos de várias poesias brasileiras no início de cada um deles. Apesar de a leitura ter sido um pouco mais lenta do que esperava, O Amor nos Tempos do Ouroé um livro cativante e com um bom ritmo, recheado de emoções e reviravoltas (mesmo que a maioria delas tenha sido previsível para mim). Eu terminei a obra com um sorriso no rosto e bastante satisfeita com esse romance bem embasado culturalmente, assim como bastante fofo e apaixonante.
OS PERSONAGENS
O Amor nos Tempos do Ouro tem um grande número de personagens, mas todos marcantes e bem desenvolvidos. Apesar de ter esperado uma protagonista mais forte, Cécile conseguiu me conquistar mesmo sendo o tipo de mocinha clássica: bastante sensível e não tão audaciosa quanto pensa ser. Contudo, a garota passa por provações incríveis e mesmo assim não deixa de ser uma pessoa bondosa e corajosa até, em alguns momentos, e por isso merece o carinho que provocou em mim. Fernão me lembrou bastante o Jamie da série Outlander e, por isso, já me apaixonei pelo personagem. Ele é bonito, forte e gentil, quase um príncipe do cavalo-branco, mas gostei que a autora tenha mostrado que Fernão não era perfeito e, que mesmo na atualidade (da história) ele fosse um cara bacana, ele tinha um passado não tão legal assim.
Foi bom saber que o mocinho teve esse crescimento pessoal, assim como acompanhar ainda mais seu amadurecimento na história. Nesse ponto, O Amor nos Tempos do Ouro me lembrou bastante Orgulho e Preconceito, já que tanto Fernão quanto Cécile eram bem orgulhosos, preconceituosos (um com o outro) e esnobes no início do livro, apesar de que, felizmente, amadurecem ao longo da história. O relacionamento entre eles foi muito bem desenvolvido. Apesar do desejo estar ali desde o início, a autora soube crescer o amor deles de forma gradativa e perfeita, o que eu adorei, já que é chato demais quando o casal passa a se amar de um dia para outro. O Amor nos Tempos do Ouro tem muitos outros personagens, como o desprezível Euclides (que dá vontade de entrar no livro só para matar ele) e seu filho Henrique, de caráter também duvidoso. Felizmente, também conhecemos Malikah, Akin, Hasan, pessoas incríveis e gentis, amigos de Fernão e Cécile que, mesmos escravizados, não perderam sua esperança e sua bondade – personagens que também amei, claro.
A EDIÇÃO
A edição de O Amor nos Tempos do Ouro está perfeita. Não encontrei nenhum erro durante a leitura e a diagramação é delicada, com alguns detalhes fofos que combinam muito com a obra, assim como a capa. A imagem por si só é linda, assim como as cores usadas e a fonte do título – que também amei, pois além de ser bastante poético e marcante, o nome “O Amor nos Tempos do Ouro” ainda faz uma boa referência a um clássico da literatura mundial: O Amor nos Tempos do Cólera. Uma das mais bonitas da minha estante, definitivamente, a capa de O Amor nos Tempos do Ouroé romântica e marcante ao mesmo tempo.
CONCLUSÕES FINAIS
Um romance sensível e fofo ao mesmo tempo em que impactante e emocionante, O Amor nos Tempos do Ouro foi uma excelente leitura. Apesar de não ter me surpreendido e de eu ter sentido falta, em alguns momentos, de cenas mais leves e divertidas, a obra é muito cativante e me agradou, especialmente, por retratar com fidelidade os cenários, costumes e modo de pensar do Brasil colonial do século dezoito.
Um livro culturalmente rico e apaixonante, recomendo O Amor nos Tempos do Ouro para todos os fãs de romance, especialmente os de época. Marina Carvalho me impressionou pela profundidade de sua pesquisa sobre o período retratado, algo que fica evidente na história, mas que não a torna um livro didático. Estou ansiosa para ler mais obras dela, ainda mais se forem romances de época, gênero para o qual ela provou seu talento com O Amor nos Tempos do Ouro.
Autora: Marina Carvalho
Editora: Globo Alt
ISBN: 9788525062055
Ano: 2016
Páginas: 328
*Esse livro foi uma cortesia da Editora Globo Alt
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